Ou os governos se tornam plataformas tecnológicas ou deixarão de ser governo

No mundo contemporâneo, ou os governos se tornam plataformas tecnológicas ou deixarão de ser governo.

Governo que não usa tecnologia fica obsoleto e perde a capacidade de governar.

No Brasil, onde a qualidade dos serviços públicos é sofrível, esse salto pode eliminar a burocracia, trazendo eficiência e transparência.

Há três jeitos de transformar governos em plataformas digitais: o fácil, o médio e o difícil.

O caminho fácil é simplesmente colher os frutos mais acessíveis, empregando tecnologias existentes e de baixo custo para a administração pública.

É o que fez Washington, nos Estados Unidos, que criou uma espécie de “uberização” dos serviços públicos. Toda vez que o cidadão usa um serviço público na cidade, tem a oportunidade de dar uma nota, inclusive pelo celular, para ele. O boletim é então publicado diariamente.

Os órgãos públicos que vão bem ganham parabéns (e bônus financeiros). Os que vão mal recebem medidas imediatas. Resultado: hoje a média dos serviços públicos de Washington é nota A, que corresponde a um 9 no Brasil.

A tecnologia para implementar algo assim é simplória e barata. Já o impacto é profundo. Ajuda a administração pública a entender a percepção dos cidadãos, e os cidadãos, a fiscalizar de perto, de forma eficaz, como estão sendo atendidos.

Já o caminho de dificuldade média pressupõe a criação de uma identidade digital única para todo o país. É o que fizeram a Estônia (1,3 milhão de habitantes) e a Índia (1,3 bilhão).

Nesses dois países, a identidade é 100% digital. O cidadão não precisa ir pessoalmente ao órgão público. Faz tudo pelo celular, de casa. Também não precisa usar papel. Nem precisa levar seus documentos de novo, todas as vezes que precisa do Estado. A Índia implementou sua identidade digital (que tem 1,3 bilhão de usuários) em cinco anos.

O Brasil pode fazer igual. Para isso, há uma frente parlamentar em formação, liderada pelo deputado Marcelo Calero, com o objetivo de promover a adoção de GovTech no Brasil.

Por fim, o caminho mais difícil para a transição digital requer o domínio de tecnologias complexas: inteligência artificial, cloud computing, internet das coisas e big data. É o uso dessas tecnologias que irá decidir quem pertencerá ao clube das potências no futuro.

Por exemplo, no interior da China há hoje as chamadas “Taobao Towns” (cidades TaoBao). Utilizando todas essas tecnologias, criou-se um caminho de integração de mão dupla para os mercados locais.

Os moradores de regiões remotas passaram a ter acesso a logística e inteligência capaz de escoar seus produtos, que vão de hortaliças, tapeçarias, roupas até pequenas manufaturas. Ao mesmo tempo, passaram a poder consumir como se estivessem em uma grande cidade, virtualmente. Tudo mediado por essas tecnologias, especialmente inteligência artificial.

No Brasil, onde ainda estamos em momento anterior, qual desses três caminhos priorizar? A resposta é simples: todos ao mesmo tempo. O desafio do desenvolvimento já não era fácil. Com a tecnologia, tornou-se menos ainda.

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Ronaldo Lemos
Advogado, diretor do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro

Fonte: Folha de São Paulo